quinta-feira, 27 de março de 2014

Projeto Atleta Olímpico forma pugilistas e cidadãos em Boa Vista-RR


Guilherme Brasil

O pugilista Guilherme Brasil, de 16 anos, vem se destacando no boxe, no Estado. Luta há quase seis anos e já venceu um atleta 12 anos mais velho, o Camani Viajiri, 28 anos, pela categoria até 64 kg, no torneio preparatório para a Copa Norte de Boxe, realizado no fim de semana. Entre tantas conquistas, está a do ano passado, a medalha de bronze na categoria cadete, no Campeonato Brasileiro de Boxe, em Aracaju (SE), que o fez ingressar na seleção brasileira da modalidade.

Mas, como todo mundo sabe, conquistar um espaço no cenário nacional em qualquer esporte não é fácil. É preciso dedicação aos treinos, disciplina, determinação e apoio. Precisou o treinador Ronaldo Silva entrar na vida de Guilherme para auxiliá-lo nos treinos. A parceria começou em 2008, quando Ronaldo criou o projeto Atleta Olímpico, que tem como objetivo formar cidadãos e atletas olímpicos de forma a evitar que jovens se percam pelo mundo das drogas e das ruas.

Guilherme foi uma das oito crianças que inauguraram o projeto, na época, no bairro União. Ele tinha 10 anos quando iniciou. Era uma criança franzina, que mal se alimentava e, além de problemas de bronquite, tinha problemas com a mãe, Luiza Brasil, que, quando necessário, dava aqueles “puxões de orelha”.

Ronaldo Silva foi o “cara” que o ajudou a enfrentar esses problemas. No início, a mãe não queria que Guilherme participasse do projeto por conta da bronquite, e, na época, ela não revelou isso ao treinador Ronaldo, que irá entender hoje o porquê quando ler esta reportagem. Quem o autorizou a participar foi o pai, Reginaldo Pereira.

Guilherme, que atualmente está cursando o terceiro ano do ensino médio, afirma que o projeto também fez melhorar seu rendimento escolar. As disciplinas que ele mais gosta são Geografia, Física e Química. “Quando eu entrei no projeto, minhas notas na escola eram baixas, aí minha mãe pegou minhas notas e foi reclamar para o professor e elas melhoraram. Antes, eu ficava mais na rua com os amigos, mas agora eu fico mais em casa mesmo, só saio para a academia e para a escola”, disse.

A mãe, Luiza, confirma que o programa ajudou muito a vida do filho no convívio social, no crescimento em estatura e na obtenção de massa muscular através dos exercícios. “Antes do projeto ele era bem magrinho, não comia. Mas depois disso, ele melhorou muito. Se destacou na escola, na academia. Através do projeto, ele passou a se alimentar de coisas que não comia, como feijão e arroz. Ele começou a se alimentar bem, criou mais massa muscular, cresceu. Antes ele tinha problemas de crescimento”, afirma a mãe.

O PROJETO

O treinador Ronaldo Silva criou o projeto em 2008
Guilherme é uma das mais de 100 crianças e adolescentes que integram o projeto Atleta Olímpico, criado em 2008, pelo treinador de boxe, Ronaldo Silva, de 40 anos. Ronaldo dedica sua vida ao boxe desde 1991, quando morava em sua cidade natal, Itaituba (PA). Por morar no interior, as oportunidades de se destacar no cenário estadual eram escassas. Até que, em 1995, houve uma seletiva para a seleção paraense de boxe, e ele não desperdiçou a oportunidade. Foram quatro lutas. Ele venceu três e conseguiu sair de Itaituba para morar em Belém, onde fica a seleção.

Na capital, ingressou no projeto Atleta Olímpico, desenvolvido pela prefeitura de Belém – de onde veio o nome da iniciativa que, há quase seis anos, vem dando certo em Boa Vista. Ainda no Pará, Ronaldo conseguiu se destacar em torneios, e, graças ao projeto, começou a dar passos mais longos, chegando a ser reserva na seleção brasileira de boxe por quase quatro anos (1999 a 2002), tendo que morar em São Paulo neste período.

Depois, Ronaldo voltou ao Pará, e logo se mudou para Roraima. Em 2008, como forma de agradecimento ao que o esporte lhe proporcionou, o treinador criou o projeto Atleta Olímpico, em Boa Vista, visando formar, gratuitamente, atletas olímpicos, além de evitar que jovens entrem nas ruas, nas drogas e no crime. O programa também tem contribuído para a formação acadêmica de alguns de seus atletas, através de uma parceria com uma faculdade.

O principal alvo são crianças e adolescentes entre 10 e 16 anos de idade. “O projeto começou com oito crianças na área da nossa casa. Aí, foi ficando grande e tivemos que alugar um galpão, mas também ficou pequeno. Então, passamos a atender 106 pessoas, entre 10 e 16 anos e o espaço ficou pequeno demais. Agora, alugamos um galpão maior para ser a nova sede”, conta Ronaldo.

Com a nova sede - localizada na avenida Parimé Brasil, no bairro Caranã, ao lado da loteria -, Ronaldo foi forçado a cobrar uma colaboração de R$ 30 por mês, e pedir patrocínio a três empresas para custearem a mensalidade de 30 atletas, entre eles, Guilherme. E o interessante é que o treinador trouxe para a academia materiais como a “pera maluca”, que alguns atletas relataram que nunca treinaram com isso.

Em relação aos resultados competitivos, em seis anos de criação, já foram 14 medalhas nacionais, com destaque para a medalha de bronze de Guilherme, e a prata de Guidson Araújo, no Campeonato Brasileiro de Boxe 2013. Graças às conquistas, os atletas farão parte da seleção brasileira da modalidade.

Quem tiver interesse em participar do projeto Atleta Olímpico, basta entrar em contato com o professor Ronaldo pelos números (95) 9154-9610 ou 8112-8235. O projeto funciona de segunda a sexta-feira, das 6h30 às 9 horas, e das 16h30 às 20 horas, na nova sede.

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